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Antes a morte que a dignidade?


Na manhã dessa terça-feira, 13 de junho, um bebê foi encontrado em uma lixeira na cidade de Tramandaí, no Rio Grande do Sul. Ainda não se sabe detalhes do fato, somente que o recém nascido estava dentro de uma sacola jogada no lixo e, infelizmente, já se encontrava sem vida. Mais um assassinato. Mais uma atrocidade entre as tantas que temos visto.

A pergunta que fica aqui é: e se essa mulher tivesse tido o apoio necessário teria tomado essa atitude? Como apoio, entende-se, informação para não ter engravidado, auxílio para ter esse bebê, direito de fazer um aborto seguro já que nenhuma das opções anteriores chegou até ela.

Nos comentários feitos pelos leitores do jornal online da região, que notifica o fato, a progenitora é a única a ser culpada pelos internautas. Monstra, desgraçada e o desejo de que ela morra são alguns dos adjetivos e desejos de uma população que culpa sem pensar na mulher. O pai, tão “culpado” quanto ela, nem citado foi. Nenhum comentário que tentasse entender o sofrimento de uma mulher que carrega um filho indesejado por 9 meses foi ali anunciado. Ninguém pensou por um segundo que o bebê pudesse estar morto antes mesmo de “descartado”, ou que fosse furtado e então largado lá, ou outra explicação qualquer foi sequer imaginado. O filho é da mãe, a mãe que dê um jeito.

O Estado, aquele que deve proteger o cidadão que paga seus impostos, não esteve presente no processo. Nem para proteger e nem para ser o “culpado” da vez. Seria mesmo, em um mundo que 1% tem a mesma riqueza que os outros 99%, a mulher a culpada e somente ela? Nossa sociedade, que julga e tem cada vez mais feito “justiça com as próprias mãos” não consegue ao menos se colocar no lugar de uma mulher sem qualquer apoio do Estado.

Criticar uma mulher porque seu desejo é capaz de gerar dentro dela um ser, enquanto o homem satisfaz seus desejos sem ônus algum, é no mínimo incoerente.

Critiquemos a quem merece. Critiquemos o estado que ao mesmo tempo que não dá educação, não apoia nem antes da gravidez, nem durante e nem depois.

Critiquemos, antes de tudo, a nós mesmos, que ao colocarmos o dedo em riste a julgar o próximo, esquecemos de exigir políticas públicas para os marginalizados, para que tenham chances e oportunidades como aqueles mesmos que apontam seus dedos. Desejar a morte de alguém, seja pelo motivo que for, é sempre uma função muito mais fácil que lutar pela dignidade de todos.


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